Até o Rui Santos

Há alguns meses atrás o Presidente do Sporting convidou os jornalistas que habitualmente acompanham a vida do Clube para um pequeno almoço, onde numa conversa informal e atempadamente combinada no pressuposto de que não seria gravada, aproveitou para passar algumas mensagens, esticando-se no palavreado com um vocabulário repleto de palavrões próprios de quem estava à vontadinha, como ele mesmo referiu no início desse encontro informal.

No dia seguinte a imprensa publicou como é natural, alguns dos recados que Bruno de Carvalho tinha deixado escapar, embora tenha passado ao lado do grosso da mensagem.

Acontece que houve um engraçadinho que resolveu fazer alguns cobres à custa da brincadeira e gravou toda a conversa que naturalmente deve ter vendido  à cmtv e cia, que logo aproveitaram o festim, que teve direito a horas de discussão sobre a "puta da gala" e a falta de educação do Presidente do Sporting.

Nos dias posteriores não faltou quem rasgasse as vestes perante o palavreado impróprio utilizado por Bruno de Carvalho, que foi apelidado de tudo e mais alguma coisa pelos cartilheiros e outros jornaleiros associados ao estado lampiónico, que o consideraram indigno do cargo que ocupa.

Quatro meses depois o presidente do Benfica em plena assembleia-geral do clube, utiliza exactamente o mesmo palavreado no seu discurso, onde disse coisas como:

nunca comprámos um filho da puta de um resultado
ou:
ele não tem um caralho de um jogador no plantel 

Isto foi dito não numa conversa supostamente informal com um grupo de convidados que sabiam as regras da mesma, mas num acto oficial do clube onde o presidente se dirigia aos sócios, e já agora às sócias, presentes.

Fiquei à espera de que nos dias seguintes viessem os moralistas do costume clamar contra tal destempero de Vieira, e de intermináveis discussões sobre o assunto nos programas da cmtv e cia, mas afinal rapidamente percebi que o grande líder apenas se tinha dirigido ao povo numa linguagem popular para ser mais facilmente compreendido e que até tinha sido assim que ele brilhantemente virara a seu favor aquela assembleia geral onde rebentaram petardos e voaram cadeiras.

Ou seja estamos perante um grande dirigente que nada tem a ver com essa geração rasca a que se referiu o Serpa da Bola, onde certamente não cabem os grupos organizados de sócios maravilhosos que abrilhantaram o magnifico espectáculo filmado por alguns benfiquistas que depois de dois ou três resultados menos conseguidos da sua equipa de futebol, já começaram finalmente a querer saber para onde vão os tais milhões das vendas de jogadores.

A subserviência e o medo da imprensa portuguesa perante esta gente chega a um ponto tal que até o famoso Rui Santos, de quem apesar de tudo sempre espero um pouco mais do que dos seguidores indefectíveis do grande líder, passou ao lado do palavreado de Vieira, ele que em relação ao tal pequeno almoço de Bruno de Carvalho, teve tiradas como estas:

Bruno de Carvalho tem muita dificuldade em protagonizar aquilo que deve ser um Presidente de um Clube 

Esta conversa compromete Bruno de Carvalho em relação ao tom e à ingenuidade revelada 

O Presidente de um Clube tem ser alguém que assuma uma dimensão institucional elevada 

Agora no mesmo "Tempo Extra" perante a pergunta:

A linguagem utilizada por Luís Filipe Vieira merece-lhe algum comentário?
A resposta começou por ser um:

Claro que merece

Mas logo tratou de generalizar:

Sempre fui critico em relação à postura dos dirigentes desportivos em Portugal, blá, blá blá

Passando depois para as cadeiras, os petardos e as claques, acabando por referir que o presidente entrou naquela AG acossado pelo 5-0 de Basileia. Coitadinho.

Quando questionado directamente sobre a frase atrás referida em que o presidente do Benfica garantiu aos sócios nunca ter comprado um resultado, respondeu:

Eu ....e esta é uma declaração que a mim me faz... porque é que se diz uma coisa destas? Eu bem sei que isto é a questão dos emails, etc...mas porque é que se diz uma coisa destas? Faz pensar.

Sobre os palavrões nem uma palavrinha sobre a forma de protagonizar aquilo que deve ser um Presidente de um Clube, ou da dimensão institucional elevada que estes devem ter.

Isto a mim também me faz pensar. É que dos, farinhas, serpas, delgados, guerras e outros que tais não se espera outra coisa que não vénias ao grande líder, agora do Rui Santos esperava mais.

Comentários