O Xadrez do Benfica

O famoso "caso dos emails", também conhecido como "benficagate", que já se arrasta há meses, começou a vir à tona com a divulgação das cartilhas, para logo de seguida aquecer com o Porto Canal a divulgar às pinguinhas algumas mensagens comprometedoras trocadas por elementos ligados ao Benfica.

Inicialmente a famosa estrutura benfiquista da qual Vieira se tinha recentemente gabado afirmando estar 10 anos à frente da concorrência, desvalorizou o assunto optando por sacrificar um dos peões do seu xadrez, que afinal não passava de um "merceeiro" que não percebia nada daquilo.

O pior foi quando começaram a aparecer mensagens envolvendo o até aí desconhecido assessor jurídico do clube, que se verificou ser um peça chave do tal xadrez, uma torre que não era possível deixar cair. 

Foi visível o embaraço e os silêncios comprometedores que até levaram ao cancelamento de uma entrevista do Presidente marcada para a TVI e perante a impossibilidade de negar as evidências passou-se à estratégia de atacar os mensageiros acusando-os de devassa de correio privado através de crime informático, ao mesmo tempo que se repetia incessantemente que nada naqueles emails provava que tivesse havido corrupção, pois faltava a tal relação de causa efeito, sem a qual tudo aquilo se esvaziava completamente.

Daí para a frente a torneira dos emails foi-se abrindo e chegou a uma altura que se transformou numa verdadeira inundação, de tal forma que se tornou difícil joeirar tanta informação, mas toda a gente já percebeu como é que funcionava a tal estrutura do Benfica, aqui definida como um verdadeiro tabuleiro de xadrez.

O rei, também conhecido nos emails como "1º ministro", rodeou-se de peças ao serviço da causa, das quais a mais protegida é naturalmente a rainha, que aparece numa das mensagens mais comprometedoras a sugerir que o computador de Jorge Jesus fosse "analisado", algo que uma das torres não recomenda, por achar que nunca se sabe o que se pode encontrar no pc daquele "maluco", referindo-se concretamente questões relacionadas com a arbitragem e a contactos de jogadores de equipas adversárias. 

Aqui surgem as perguntas que ninguém fez: O computador que queriam ver é do treinador ou do clube? Se é do clube porque é que é preciso um informático para o analisar? Que tipo de informações comprometedoras é que era possível lá encontrar relacionadas com arbitragem e jogadores de equipas adversárias? 

Uma coisa é certa, sempre que o nome do administrador executivo da SAD do Benfica aparece, toda a gente assobia para o lado, ou até tira o chapéu da cabeça, como aconteceu num outro email que envolveu o presidente da APAF. 

O processo é complexo e os indícios das movimentações suspeitas do xadrez do Benfica é tal que a PJ entrou em campo e fez buscas no Estádio da Luz e nas casas de Vieira, Gonçalves e Guerra, no âmbito de uma investigação em curso onde são referidas suspeitas dos crimes de corrupção ativa e passiva, algo que o advogado do Benfica rejeita, embora reconheça que possa haver indícios de tráfico de influências. Mais um tiro no pé digo eu.

No fim pouca gente acreditará que isto vai dar alguma coisa, de resto os benfiquistas já clamam que se o "apito dourado" não deu em nada por questões jurídicas relacionadas com a legalidade das escutas, como é que isto dos emails pirateados poderá ser diferente.

Por mim nem é isso que me interessa. Também sou daqueles que acho que nunca haverá coragem para pôr um clube como o Benfica na 2ª divisão, ou para prender alguns criminosos que gravitam à volta do futebol e dele se servem para as suas negociatas, ou mesmo os parasitas que vivem à custa do submundo da bola.

Portanto o que interessa é que se perceba e se desmonte a forma como funcionava este xadrez que tinha no rei o seu estratega, com uma rainha que só aparecia para mostrar o ouro, duas torres a jogar nas áreas das transferências e dos bastidores do futebol, os bispos na arbitragem, os cavalos na comunicação e os peões que são tantos que nem cabem num tabuleiro que se estende em áreas como, o jornalismo, a política, o dirigismo e vai até ao esgoto do futebol onde se encontram os que se vendem por trocos.

O Benfica tentava controlar tudo, não era só a arbitragem pelas nomeações e classificações, de forma a que os árbitros percebessem onde estava o poder, daí que Marco Ferreira ao ser despromovido tenha ido pedir explicações a Vieira, em vez de se dirigir ao Pereira ou ao Nunes, era também a disciplina com o caso Hulk a ser um exemplo do peso de se ter peões em pontos estratégicos, passando pelos políticos sempre dispostos a prestarem uns serviços a troco de uma popularidade duvidosa e de uns lugares na bancada VIP, sem esquecer as "toupeiras" no sistema judicial e uma comunicação social subserviente e amiga na propaganda e que agora tudo faz para passar ao lado deste caso, e uma rede de clubes e dirigentes "amigos" com os quais se faziam negócios estranhos, são também treinadores e jogadores espalhados por todo o lado, são os comentadores sem escrúpulos capazes de inventar notícias sob o comando de uma cartilha de ódio, indo ao ponto de reconhecerem que tudo farão para destabilizar os clubes rivais, uma estratégia complementada com pontas de lança na blogoesfera, são as interferências nos processos eleitorais de outros clubes, são vários peões espalhados pelos diversos órgãos da Federação e da Liga, sempre prontos a fornecerem informação privilegiada e a prestarem outros serviços, é uma rede de informações sobre a vida privada de diversos intervenientes do mundo do futebol e até as sondagem telefónicas e on-line são alvo de atenção, sem esquecer os operadores de câmara e realizadores das transmissões dos jogos, o que agora com o VAR passa a ter outra importância, isto já para não falar dos contratos com o bruxo da Guiné, porque há sempre um tonto que acredita nessas coisas.

No meio disto tudo confesso que o meu maior espanto passa pelo facto de à excepção de um pequeno reparo feito por António Simões, ainda não ter visto um único benfiquista a manifestar o seu desagrado pela forma como foi construído este tabuleiro de xadrez que sujou para sempre a história de um clube enorme, graças à acção de um grupo de pessoas que acharam que valia tudo para ganhar, e que se convenceram que estavam 10 anos à frente dos outros e logo acima de qualquer imprevisto, ao ponto de terem perdido a cabeça quando decidiram que o Sporting de Bruno de Carvalho não podia ser de forma alguma ser Campeão com um treinador que eles tinham despachado para provarem que não era ele a peça chave do sucesso do grupo, mas sim o tabuleiro de xadrez que controlava tudo, e que agora de peão em peão vai caindo, enquanto as peças principais se escondem procurando evitar o xeque ao rei, ou quem sabe o mate. 

Comentários

  1. Depois de muitos peões sacrificados, da queda dos bispos e dos cavalos, hoje foi a vez de uma torre que já uma peça com grande importância neste xadrez da vergonha, só que este seguramente que não se vai sacrificar como um simples merceeiro que não percebe de nada. Sempre quero ver como é que o rei sai desta.

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